
«Vi-te partir, a sensação foi um tanto boa, um tanto diferente. Procuras direcções opostas às minhas. Cheguei a deparar-me com um beco sem saída, mas sabes, acabei por sair. Saltei o muro e segui em frente.» A rapariga desta vez, já não pedia insistentemente, durante as noites mal dormidas, durante os momentos de reflexão para voltar, mas para esquecer. Já não se perguntava «porquê», «como», mas implorava dias a fio, para uma abençoada amnésia, uma borracha gigantesca que apagasse do inicio até ao fim, aquele capítulo da sua vida. No seu coração pesava, a raiva que em tempos foi algo tão bonito. Com o passar dos dias, foi vendo e revendo, tudo o que não queria literalmente ver. Mesmo assim, procurava saber mais e mais, de cada passo, cada falha, cada glória, por muito que lhe custasse, queria que a verdade dolorosa, fosse um meio milagroso de seguir em frente. Rasgou todas aquelas páginas, era o recomeço. Não precisou de nada nem ninguém, o que antes era motivo de lágrimas, enxaquecas, agora, era motivo de risota e achava ridículo. Será que deu em maluca? - pergunto - Talvez fosse a melhor forma de disfarçar a dor que sentia, a saudade que tinha, ou lhe desse realmente piada. Espera, pensando melhor, até tinha uma pepita de comédia à mistura. Desde quando, em tempo algum, a pessoa que realmente gosta de nós, deixa-nos desamparados, sem saber para onde ir? Pode seguir um caminho oposto ao nosso, mas no entanto poderia ser um empurrão, uma ponte, algo mais que um figurante. No fundo, ao contrário do que pensou, quem esteve perdida não foi ela, mas quem fez-se despercebido e foi-se adaptando aos poucos, a algo onde não pertencia.
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